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PRODUTOS DA APICULTURA

As diferentes matérias-prima produzidas pelas abelhas

Por Ana Castilho

O Brasil é um grande produtor de mel, produzindo aproximadamente 42,3 mil toneladas de mel por ano (IBGE, 2018). A cadeia produtiva do Brasil é composta por mais de 300 mil apicultores e uma centena de unidade de processamento de mel, empregando temporária ou permanentemente quase 500 mil pessoas (BACAXIXI et al., 2011). Porém, há um potencial apícola (clima e flora) muito grande ainda não explorado que poderia aumentar a produção (BACAXIXI et al., 2011), para tanto é importante que o produtor tenha conhecimento sobre as abelhas, famílias, organização de colônia e produtos que podem ser comercializados.

Figura: Produtos das abelhas. Fonte: MARINQUE; EGEA SOARES; ZAVARO; PAULA NETO; ALMEIDA NETO apud BACAXIXI et al., 2011.

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MEL

O mel é uma substância viscosa, aromática e açucarada obtida a partir do néctar das flores que é transportado no papo das operárias até um alvéolo do favo, processo este em que são incorporados exsudatos sacarínicos que as abelhas produzem, obtendo assim o mel maduro, que será selado com o mel operculado. Seu aroma, sabor, coloração, viscosidade e propriedades medicinais estão diretamente relacionados com a fonte do néctar e a espécie de abelha que o produziu (CAMARGO et al., 2002; SEREGEN, 2004).

Seus principais componentes são os açúcares frutose, glicose, sacarose e maltose, responsáveis pelas características físicas do mel. A água, importante para a qualidade e características do mel, que costuma variar de 15% a 21% do conteúdo do mel, entretanto, valores acima de 18% já podem comprometer a qualidade final do produto (CAMARGO et al., 2002). Enzimas adicionadas pelas abelhas, responsáveis por mudanças químicas nos açúcares e pelo amadurecimento do mel. Proteínas, que são encontradas em concentrações mínimas, de origem vegetal e animal. Ácidos orgânicos que auxiliam na estabilidade do mel frente a microorganismos. Minerais como cálcio, cloro, ferro, manganês, magnésio, fósforo, potássio, zinco, alumínio, entre outros (WHITE JUNIOR; PAMPLONA apud CAMARGO et al., 2002). E demais componentes, como vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina D.

O mel é um alimento que possui ação antibactericida e é de fácil digestão, podendo ser consumido como alimento pelos membros da colmeia e pelos humanos (SANTOS apud BACAXIXI et al., 2011).

Ele pode ser usado na nutrição humana para adoçar bebidas e comidas, para tratar irritações de garganta e por ser um alimento rico em energia (CAMARGO et al., 2002). Recentes trabalhos científicos vêm comprovando inúmeras propriedades terapêuticas, como ação antimicrobiana, antisséptica, antibacteriana, entre outros, sendo utilizados como coadjuvantes em tratamentos profiláticos (STONOGA & FREITAS apud CAMARGO et al., 2002). No Brasil, o mel é consumido mais por suas propriedades terapêuticas do que alimentícias, por isso, sua procura é maior em épocas frias e seu consumo como alimento é baixo (aproximadamente 300 g/habitante/ano) se comparado aos Estados Unidos, Europa e África (que podem chegar a mais de 1 kg/habitante/ano) (CAMARGO et al., 2002).

CERA

É produzida pelas abelhas com idade entre 12 e 18 dias através de glândulas especiais presentes no abdômen das operárias, sendo que, para produzir 1 kg de cera, as abelhas ingerem aproximadamente 14 kg de mel e pólen (GALLO et al., 2002).

Na colmeia ela é utilizada para construção dos favos e fechamento dos alvéolos (opérculo) e possui uma coloração clara assim que secretada, mas vai escurecendo conforme depósito de pólen e desenvolvimento de larvas (CAMARGO et al., 2002).

Muito utilizada na fabricação de produtos cosméticos, velas, produtos farmacêuticos, folhas de cera moldada, graxas, entre outros (SEREGEN, 2004). A quantidade de produção de cera varia conforme a colmeia, segundo Seregen (2004) “de 0,2 a 0,5 kg se forem utilizados pequenos quadros e de 0,5 a 2 kg quando o mel é prensado e todos os favos são dissolvidos”.

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pólen

Não é produzido pelas abelhas, porém possui grande importância na apicultura. É o gameta masculino das flores coletado pelas abelhas que será transportado para a colmeia e armazenado nos alvéolos, onde passará por um processo de fermentação (CAMARGO et al., 2002). Segundo Seregen (2004), uma colônia de abelhas colhe 100 a 200 g de pólen por dia, o equivalente a aproximadamente 30 a 50 kg por ano.

O pólen pode conter até 35% de proteínas, mas também é rico em lipídios, minerais e vitaminas e, na colmeia, ele será utilizado como alimento pelas abelhas na fase larval e abelhas adultas com até 18 dias de vida (CAMARGO et al., 2002; SEREGEN, 2004).

Pode ser consumido seco ou misturado com outro alimento, como o próprio mel. É muito utilizado na indústria dos perfumes e na suplementação alimentar (SEREGEN, 2004; CAMARGO et al., 2002).

POLINIZAÇÃO

Consiste no transporte de gametas masculinos de uma flor para o óvulo da mesma flor ou de outra flor da mesma espécie, permitindo a fecundação dessa flor e, consequentemente, o desenvolvimento do fruto (GALLO et al., 2002). Muitas vezes na natureza, esse transporte de gametas entre flores necessita do auxílio de algum agente, como água, vento, insetos, pássaros, porém, as abelhas são os agentes mais eficientes para a produção da maioria das espécies vegetais, contribuindo com aproximadamente 80% dos transportes (CAMARGO et al., 2002; GALLO et al., 2002).

Segundo Seregen (2004), as abelhas mantêm-se fieis a uma flor, visto que, quando uma abelha encontra flores de uma determinada espécie vegetal, ela indica para suas companheiras de colmeia que visitem esta fonte de alimento até esgotarem essa espécie e, então, procurarem outra.

Muitas são as plantas que necessitam ou são favorecidas pelos insetos polinizadores na produção de frutos ou sementes, como maçã, algodão, cebola, café, manga, abacate, coco, girassol, pera, maracujá, ameixa, caju, cereja, damasco, melão, goiaba, pêssego, feijão, mostarda, entre outros (GALLO et al., 2002; SEREGEN, 2004). Se, durante a época de floração, um número suficiente de colônias estiver próximo a espécie vegetal, “não só o rendimento será maior, como melhor será a qualidade dos frutos” (SEREGEN, 2004). Alguns estudos indicam que a atividade polinizadora das abelhas é a mais importante delas, pois é 143 vezes mais significativa, economicamente falando, que a produção de mel, cera e geleia real (GALLO et al., 2002).

Em locais com alto índice de desmatamento ou com predominância de monocultura, a utilização de abelhas para polinização se faz ainda mais necessária para a produção de determinados vegetais, o que fez muitos apicultores começarem a alugar suas colmeias durante a florada, gerando um acréscimo na renda do produtor (CAMARGO et al., 2002).

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própolis

É constituída por uma mistura de material resinoso e balsâmico que as abelham coletam dos ramos, flores, pólen, brotos e exsudatos das árvores, que, na colmeia, elas somam a secreções salivares e enzimas (PEREIRA et al.; FRANCO et al. apud LUSTOSA, 2008). A resina coletada pelas abelhas é retirada dos botões florais, gemas e dos cortes nas cascas dos vegetais (CAMARGO et al., 2002).

Própolis, do grego, significa defesa da comunidade (PEREIRA et al. apud LUSTOSA, 2008). Portanto, na colmeia ela é utilizada para vedar frestas e a entrada do ninho, evitando corrente de ar fria, para isolar e prender corpos estranhos e mumificar insetos invasores, bem como para preparar locais assépticos para a postura da abelha rainha e limpeza da colônia (LUSTOSA, 2008; CAMARGO et al., 2002; GALLO et al., 2002).

É composta por “50% a 60% de resinas e bálsamos, 30% a 40% de ceras, 5% a 10% de óleos essenciais, 5% de grão de pólen, além de microelementos como alumínio, cálcio, estrôncio, ferro, cobre, manganês e pequenas quantidades de vitaminas B1, B2, B6, C e E” (PARK et al.; BURDOCK; FUNARI & FERRO; MENEZES; WOISKY et al. apud LUSTOSA, 2008).

A composição final da própolis, bem como coloração, odor e propriedades medicinais variam de acordo com a espécie vegetal da qual a abelha retira as resinas. Ela pode ser utilizada na indústria cosmética e farmacêutica, mas atualmente, segundo Camargo et al. (2002), “cerca de 75% da própolis produzida no Brasil é exportada, sendo o Japão o maior comprador”.

GELEIA

REAL

É produzida a partir do mel, pólen e água nas glândulas hipofaringianas das operárias jovens. É utilizada como alimento das larvas e da abelha rainha, sendo composta por água, proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas (GALLO et al., 2002).

A geleia real possui aspecto viscoso, coloração branca e sabor ácido forte e, apesar de não ser estocada nas colmeias como o mel e o pólen, ela é produzida e comercializada in natura, misturada com mel ou liofilizada e também pode ser utilizada na composição de medicamentos e cosméticos (CAMARGO et al., 2002).

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APITOXINA

As abelhas operárias produzem nas duas primeiras semanas de vida a apitoxina nas glândulas de veneno e a armazena no “saco de veneno” que fica na base do ferrão, sendo uma substância transparente, solúvel em água e composta por proteínas, aminoácidos, lipídios e enzimas (CAMARGO et al., 2002).

A tolerância do homem à dose da apitoxina varia a cada indivíduo, segundo Camargo et al. (2002), “existem relatos de pessoas que sofreram mais de cem ferroadas e não apresentaram sintomas graves, enquanto outros indivíduos extremamente alérgicos podem apresentar choque anafilático e falecer com uma única ferroada”. Depois de picada, a pessoa deve extrair logo o ferrão sem comprimi-lo, porque isso aumentaria a injeção de veneno.

A apitoxina possui ação anti-reumática, porém, é um produto de difícil comercialização, pois a comercialização é limitada a farmácias de manipulação e indústrias de processamento químico, por causa de sua ação tóxica (CAMARGO et al., 2002).

BACAXIXI, P. et al. A importância da apicultura no Brasil. Revista Científica Eletrônica de Agronomia, Garça, Ano X, n. 20, dez. 2011. Disponível em: <www.revista.inf.br>. Acesso em: 30 abr. 2020.

CAMARGO, R. C. R. de. Sistemas de Produção: Produção de Mel. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2002.

GALLO, D. et al. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002.

IBGE. Produção Pecuária Municipal, 2018. Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/84/ppm_2018_v46_br_informativo.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2020.

LUSTOSA, S. R. Própolis: atualizações sobre a química e a farmacologia. Revista Brasileira de Farmacologia, João Pessoa, vol. 18, n. 3, p. 447-454, jul./set.. 2005. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-695X2008000300020>. Acesso em: 30 abr. 2020.

SEREGEN, P. A apicultura nas regiões tropicais. Wageningen: Fundação Agromisa, 2004.

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Projeto de Extensão Caracterização da Apicultura na Região do Norte Pioneiro do Paraná

Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)

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