
POLINIZAÇÃO
A importante tarefa das abelhas para as plantas
Por Giovana Moretto
As angiospermas são plantas que se caracterizam por apresentar flor e fruto. Nessa classificação de plantas ocorre a polinização que é transferência dos grãos de pólen das anteras (parte masculina) para o estigma (parte feminina) das flores, possibilitando a fecundação da flor e posterior desenvolvimento do fruto. Existem dois tipos de polinização: a autopolinização e a polinização cruzada. A autopolinização é a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma da mesma flor ou de uma outra flor do mesmo pé.
A polinização cruzada é a transferência dos grãos de pólen da antera de uma flor para o estigma de outra flor da mesma espécie, mas de pés diferentes. Na natureza, esse tipo de polinização é o mais vantajoso, já que possibilita a formação de novas combinações genéticas que favorecem a formação de sementes, originando novas plantas, mais vigorosas e produtivas.
Os agentes polinizadores são os quais favorecem a polinização cruzada, como o vento, os animais, a água e os insetos. Dente os insetos temos as abelhas com grande importância na polinização pois a grande maioria alimenta-se exclusivamente de recursos florais, estabelecendo relações estreitas com as angiospermas ao longo da evolução de ambos os grupos.
Assim, flores e abelhas polinizadoras apresentam inúmeros casos de adaptação recíproca, como por exemplo: as abelhas apresentem pelos em todo o corpo, que favorecem o transporte dos grãos de pólen, e o seu eficiente sistema de comunicação, o qual permite a uma abelha campeira indicar rapidamente a todas as outras abelhas a localização de uma florada. E as flores desenvolveram mecanismos de atração das abelhas como as cores já que abelhas diferenciam bem a cor amarela, verde, azul e violeta, e são atraídas por elas; aromas pois as abelhas são muito sensíveis ao cheiro; a forma da flor a qual ajuda a destacá-la na folhagem e também favorece a aproximação da abelha; e o néctar sendo o maior atrativo da abelha.
Além de servirem como fonte de alimento (pólen, néctar e óleo), recursos florais são fundamentais para as abelhas por serem utilizados como componentes das células de cria (óleo, resina), na construção dos ninhos (resina) e no comportamento reprodutivo (perfumes).
Segundo FAO (2004), “Estima-se que aproximadamente 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo sejam polinizadas por alguma espécie de abelha, 19% por moscas, 6,5% por morcegos, 5% por vespas, 5% por besouros, 4% por pássaros e 4% por borboletas e mariposas” (apud FREITAS, B. M., FONSECA, V. L. I. 2005). Analisando que mais de 70% ocorra por abelhas percebemos a real importância delas na produção de alimentos e como influencia diretamente na cadeia alimentar já que através da polinização é possível o aumento da produtividade, aumento do peso unitário e melhor formato da fruta.
A polinização é a mercadoria mais rentável produzida pelas abelhas no Brasil ela não é uma prática comum na agricultura, embora elas tenham um elevado potencial para incrementar a produção nas culturas de interesse econômico. Porem algumas regiões já a utilizam mostrando o quão lucrativo pode ser de acordo com MORSE e CALDERONE, (2000) “a maçã (Malus domestica) na Região Sul, especialmente Santa Catarina, e o melão (Cucumis melo) na Região Nordeste, particularmente nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Apesar destas iniciativas se resumirem, na maioria dos casos, à introdução de colônias de Apis mellifera nas áreas cultivadas com pouco manejo, direcionamento dos serviços de polinização e cuidados com os agentes polinizadores nativos, cerca de 10.000 colônias de A. mellifera foram alugadas ao custo médio de R$ 30,00/unidade para polinização de meloeiros no Nordeste do Brasil em 2004, totalizando R$ 300.000 (trezentos mil reais). Apenas em Santa Catarina, 45.000 colônias foram alugadas ao custo de R$ 40,00/unidade, perfazendo R$1.800.000,00 (Um milhão e oitocentos mil reais) em 2004. Valores bem discretos se compararmos com os US$ 14,6 bilhões de dólares atribuídos à polinização por Apis mellifera nos EUA” (apud FREITAS, B. M., FONSECA, V. L. I. 2005).
Nos outros países onde a polinização é um produto amplamente comercializada ocorre a polinização migratória a qual é a mudança do apiário conforme a mudança das floradas visando assim o serviço de polinização e o de produção de mel. Nos Estados Unidos da América (EUA) essa pratica é muito comum, os apicultores viajam com milhares de colmeias ao longo de centenas de quilômetros através de vários estados em busca de flores para suas abelhas e também para fazer polinização. Para o desenvolvimento desta modalidade de exploração altamente especializada, se torna necessária uma tecnologia adequada, complementada também por equipamentos apropriados para facilitar a manipulação das colmeias, permitir fácil transporte e proporcionar a necessária resistência para os constantes deslocamentos das colmeias. Sendo possível em uma única carreta de caminhão contendo trezentas ou mais colmeias, podem ser transportadas cerca de 20 milhões de abelhas, todas potenciais polinizadoras (Morais M. M., et al., 2012).
Apesar do progresso ocorrido na apicultura brasileira, ainda não se tem a tradição no uso de abelhas A. mellifera para polinização devido à falta de mecanização, tanto no transporte e manipulação de colmeias no campo, como também para o transporte de uma cultura para outra. E também ocorre a falta também consciência dos produtores sobre a importância da polinização para as suas culturas. (Morais M. M., et al., 2012).
MORAIS, M. M., et al. Perspectivas e Desafios para o Uso das Abelhas Apis mellifera como Polinizadores no Brasil. In: FONSECA, V L I et al. Polinizadores no Brasil contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012. p. 203-213.
FREITAS, B. M.; FONSECA V. L. I. A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA POLINIZAÇÃO. São Paulo, vol. 80, p. 44-46, 2005.