
PRESERVAÇÃO
Preservar para polinizar
Por Ana Castilho
As abelhas desempenham um papel de fundamental importância para a manutenção da vida vegetal devido sua ação polinizadora de ecossistemas agrícolas e naturais.
Para conseguirem suprir as necessidades alimentares individuais, das crias e da colônia, as abelhas visitam muitas flores em busca de pólen e néctar (CORBET et al. apud D´AVILA & MARCHINI, 2005). Ao buscarem seu alimento, as abelhas pousam em uma flor, então seu corpo fica coberto de pólen (gameta masculino) e, ao voar para a flor seguinte, o pólen é depositado sobre o estigma (gameta feminino) dessa outra flor, ocorrendo a polinização (ROBERTO et al. apud BARBOSA et al., 2017). Desta forma, as abelhas prestam serviço de polinização e fertilização cruzada às plantas, que por sua vez, se utilizam de cores e odores especiais para atrair os polinizadores (IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010; BARBOSA et al., 2017).
As plantas podem ser dioicas, monoicas ou hermafroditas. Para as dioicas, monoicas e hermafroditas com problemas de autofecundação, é necessária a presença de polinizadores, enquanto que para as hermafroditas capazes de se autofecundarem, a polinização cruzada pode aumentar a produção de frutos e sementes (MARCHINI apud D´AVILA & MARCHINI, 2005).
As abelhas são consideradas as mais eficientes polinizadoras, pois “90% das espécies de plantas com flores e 80% dos vegetais de interesse econômico são polinizados por esses insetos” (MCGREGOR; NOGUEIRA-COUTO apud D´AVILA & MARCHINI, 2005).
As abelhas e sua polinização
As abelhas Apis mellifera, muito utilizada no Brasil para produção de mel, são boas polinizadoras, pois se movimentam em zigue-zague no meio das flores, dispersando mais o pólen, e porque elas têm baixa especificidade quanto as plantas (SMITH; RUTTNER; FREE; FREITAS apud D´AVILA & MARCHINI, 2005). Porém, segundo Costa-Maia, F. M.; Lino-Lourenço, D. A.; Toledo, V. A. A. De. (2010), sua vasta criação pode resultar em competição por recursos com as abelhas nativas sem ferrão (Meliponini).
As abelhas sem ferrão são responsáveis pela polinização de até 90% das árvores nativas (KERR et al. apud SANTOS, 2010), sendo então consideradas como mantenedoras da biodiversidade devido seu serviço de polinização, além de produzirem mel e outros produtos medicinais, bem como atuar no reflorestamento e identificação das espécies vegetais (REGO & ALBUQUERQUE; KERR apud SANTOS, 2010).
Além disso, as abelhas nativas podem servir como polinizadoras em culturas abertas e em estufas por possuírem hábito alimentar generalista, não terem ferrão, terem colônias menores, dentre outros fatores (MALAGODIBRAGA & KLEINERT apud D´AVILA & MARCHINI, 2005).
As Apis mellifera são encontradas em maior frequência no território brasileiro devido a alta criação para produção de mel, porém, não significa que elas têm uma polinização mais eficiente, até por não serem manejadas corretamente para isso. Já as abelhas nativas (Meliponini) não estão disponíveis em quantidade suficiente, apesar de muitas vezes serem mais eficientes que as anteriores (COSTA-MAIA, F. M.; LINO-LOURENÇO, D. A.; TOLEDO, V. A. A. DE, 2010). Portanto, é benéfica a interação entre essas espécies para que haja um fornecimento adequado de alimento para os seres humanos, bem como preservar a flora nativa.
Ecossistema
Como as abelhas sem ferrão são responsáveis pela polinização de até 90% das árvores, é necessária a conservação dessas espécies para preservar as matas nativas (COSTA-MAIA, F. M.; LINO-LOURENÇO, D. A.; TOLEDO, V. A. A. DE, 2010). As plantas, por sua vez, são os produtores primários no ecossistema, sendo responsáveis pelo “sequestro de carbono, prevenção da erosão do solo, fixação de nitrogênio, manutenção dos lençóis freáticos, absorção de gases do efeito estufa e fornecedores de alimento e habitat para a maioria das formas de vida aquática e terrestre” (FAO apud BARBOSA et al., 2017).
Além disso, sem as abelhas árvores produtoras de alimento como o cupuaçu, a castanha do Brasil e o açaí não frutificam (GRIBEL; FREITAS & CAVALCANTE; VENTURIERI apud IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010), sendo as abelhas assim de fundamental importância para a produção agrícola também.
Agricultura
Segundo Klein apud Imperatriz-Fonseca & Nunes-Silva (2010), “33% da alimentação humana depende em algum grau de plantas cultivadas polinizadas muitas vezes pelas abelhas”. Sendo algumas das culturas: “abacate, abóbora, alfafa, algodão, ameixa, amêndoa, amora, aspargo, beterraba, canola, cebola, cenoura, amora, feijão, girassol, kiwi, maça, melão, melancia, morango, pepino, pera, pimenta, repolho, soja e tomate” (DEPLANE & MAYER; SLAA et al. apud SANTOS, 2010).
Em casos de produção de culturas dependentes de polinização, na ausência dessas abelhas seria necessária uma área de plantio maior, acelerando o desmatamento e consequentemente causando um declínio ainda maior dos polinizadores (IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010).
Além disso, segundo Potts et al. apud Imperatriz-Fonseca & Nunes-Silva (2010), o valor dos serviços de polinização na América do Sul é de 11,6 bilhões de euros por ano. Apesar de no Brasil o aluguel de colmeias não ser uma prática comum, nos últimos anos essa atividade tem crescido devido ao interesse dos produtores agrícolas em aumentar a produção (VIEIRA et al. apud SOUZA, D. L.; EVANGELISTA-RODRIGUES, A; CALDAS PINTO, A. S. DE., 2007).
Portanto, segundo Gallai et al. apud Costa-Maia, F. M.; Lino-Lourenço, D. A.; Toledo, V. A. A. De (2010), “é evidente a importância dessas abelhas para manter a sustentabilidade da agricultura no país”. Assim, considerando a dependência de polinizadores para a agricultura e o valor deste serviço, é necessário manter as áreas naturais nas propriedades agrícolas, a fim de manter os polinizadores, garantindo uma maior produção agrícola (IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010).
Declínio
Segundo Wolff apud D’Avila & Marchini (2005), apesar da grande importância para polinização, as abelhas estão em declínio devido a expansão das áreas agrícolas, resultando em uma redução ou mesmo extinção de espécies vegetais (BARBOSA et al., 2017).
Isso ocorre devido à “diminuição de fontes de alimentos e de locais de nidificação, à ocupação intensiva das terras e ao uso de defensivos agrícolas” (BARBOSA et al., 2017).
A contaminação do meio ambiente por agrotóxico é um dos principais agravantes, considerando que existem estudos que mostram que 50% do pólen coletado no Brasil tem traços de agrotóxicos e que pode causar uma série de efeitos nas abelhas, como morte da abelha, comprometimento da sobrevivência da colônia, incapacidade de orientação e consequentemente de retorno à colônia e alteração de comportamento que afetam a capacidade de forrageamento das abelhas (COX e WILSON apud BARBOSA et al., 2017).
Outros fatores são ilustrados na tabela a seguir:

Figura: Fatores que levam a redução de populações de polinizadores. Fonte: Kerr apud Santos (2010)
Preservando
É necessário estabelecer métodos para manter as abelhas, através da conservação dos fragmentos de matas e consequentemente, a preservação de locais de nidificação, como troncos apodrecidos e barrancos, para abelhas solitárias (ALVES-DOS-SANTOS; FREITAS & ALVES apud IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010), bem como árvores ocas para as abelhas sociais (CORTOPASSI-LAURINO et al. apud IMPERATRIZ-FONSECA & NUNES-SILVA, 2010).
Desta forma, preservaremos as abelhas e sua importante tarefa de polinização para a produção agrícola e conservação de ecossistemas naturais.
BARBOSA, D. B. As abelhas e seu serviço ecossistêmico de polinização. Revista Eletrônica Científica UERGS, Tapes, vol. 3, n. 4, p. 694-703, 2017. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.21674/2448-0479.34.694-703>. Acesso em: 30 abr. 2020.
COSTA-MAIA, F. M.; LINO-LOURENÇO, D. A.; TOLEDO, V. A. A. DE. Aspectos econômicos e sustentáveis da polinização por abelhas. Sistemas de Produção Agropecuária (Ciências Agrárias, Animais e Florestais), p. 45-67, 2010. Disponível em: <http://revista.uergs.edu.br/index.php/revuergs/article/view/1686/411>. Acesso em: 30 abr. 2020.
D’AVILA, M. & MARCHINI, L. C. Polinização realizada por abelhas em culturas de importância econômica no Brasil. Boletim de Indústria Animal, Nova Odessa, vol. 62, n. 1, p. 79-90, 2005. Disponível em: <http://www.iz.sp.gov.br/bia/index.php/bia/article/view/1319>. Acesso em: 30 abr. 2020.
IMPERATRIZ-FONSECA, V. L & NUNES-SILVA, P. As abelhas, os serviços ecossistêmicos e o Código Florestal Brasileiro. Biota Neotrop, Vol. 10, n.4, p. 59-62, 2010. Disponível em: <http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/abstract?article+bn00910042010>. Acesso em: 30 abr. 2020.
SANTOS, A. B. Abelhas nativas: polinizadores em declínio. Natureza online, vol. 8, n. 3, p. 103-106, 2010. Disponível em: <http://www.naturezaonline.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2020.
SOUZA, D. L.; EVANGELISTA-RODRIGUES, A; CALDAS PINTO, A. S. DE. As Abelhas Como Agentes Polinizadores. Revista electrónica de Veterinaria, vol. VIII, n. 3, p. 1-7, mar. 2007. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63613302010>. Acesso em: 30 abr. 2020.